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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Consciência Negra

Além do trabalho que já vem sendo realizado sobre a consciência negra em sala de aula, neste ano contamos com a contribuição da professora Cláudia, visitando as nossas turmas e enriquecendo o nosso trabalho. A profe Cláudia é uma profunda conhecedora sobre o tema e veio falar também sobre esse rico continente, a África. De forma acessível e descontraída, ela utilizou uma apresentação no power point para mostrar imagens sobre o assunto e interagir com os alunos. 
No Colégio Érico Veríssimo a palestra foi ampliada para além da nossa turma todas as quintas séries da escola, atingindo um total de mais de cento e cinquenta crianças.
Também no Érico tivemos a contribuição do professor Miguel (prata da casa), sobrinho neto de João Cândido, figura homenageada neste ano.

Para aprender um pouquinho mais...

Quem foi João Cândido? 

Nascido em Rio Pardo no Rio Grande do Sul, em 24 de junho de 1880, filho de ex-escravos, João Cândido entrou para a corporação em 1894, aos 14 anos — época em que as Forças Armadas aceitavam menores e a Marinha, em particular, recrutava-os junto à polícia.Este não foi o caso de João Cândido. Recomendado por um almirante, que se tornara seu protetor, logo desponta como líder e interlocutor dos marujos junto aos oficiais.
Em 1910, uma viagem de instrução à Inglaterra alicerça, entre os marinheiros brasileiros, as bases para o levante conspiratório que poria fim ao uso de castigos físicos na Marinha. Durante a viagem inaugural do Minas Gerais, João Cândido e companheiros tomam ciência do movimento pela melhoria das condições de trabalho levado a cabo pelos marinheiros britânicos entre 1903 e 1906. E, ainda, da insurreição dos russos embarcados no encouraçado Potemkin, em 1905.
De volta ao Brasil, o estalo das chibatas não cessa, e os soldos baixos — contrastando com o status de maior frota náutica do mundo, superior até mesmo à inglesa — acirra o clima de tensão entre os marujos.
Até que em 22 de novembro de 1910, a lembrança das 250 chibatadas recebidas por um marinheiro, no dia anterior, deflagra o início da revolta. Durante quatro dias, marinheiros liderados por João Cândido (figura central da tomada dos navios, das negociações e, é claro, do ódio da Marinha Brasileira e do Governo Brasileiro) e entrincheirados nos navios São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Deodoro — ancorados ao longo da baía da Guanabara — lançam bombas na cidade. Ao toque de recolher, o ataque estava pronto. Os marinheiros estavam dispostos a dar um fim à violência e humilhação que marcava as suas costas com o couro das chibatas. Como sentenciou João Cândido, o Almirante Negro, "Naquela noite o clarim não pediria silêncio e sim combate". 
Na Marinha Brasileira, a situação não era diferente. Estima-se que cerca de 80% da "maruja" era constituída por negros e mulatos. Em contrapartida, a oficialidade era formada por filhos de antigos senhores de escravos. Em muito pouco mudava, efetivamente, o antagonismo entre a casa grande e a senzala, apenas posto naquele momento em outros termos. A "maruja" não era melhor tratada do que seus pais ou avós, sendo que em geral eram filhos de ex-escravos. Recebiam um soldo miserável, alimentavam-se com uma comida detestável, quando não estragada e, o pior, eram castigados com chibatadas, amarrados pelos pés e pelas mãos, em cerimoniais bárbaros, de "castigos exemplares". O regulamento da "Companhia Correcional", como salienta Mário Maestri em "Cisne Negro: Uma História da Revolta da Chibata"(Ed. Moderna, 2000), permitia, 22 anos após a abolição da escravatura, a punição física pela chibata.
Finda a revolta por um lado, ao menos parte das reivindicações dos amotinados foi atendida, em relação a comida nas embarcações e ao fim das chibatadas, os seus principais líderes foram traídos e a maioria dos participantes foram mortos. Dezoito dos principais líderes dos marinheiros envolvidos na ação foram jogados numa solitária do Batalhão Naval, na Ilha das Cobras. Antes de encarcerá-los, o pequeno catre que os receberia é "desinfetado", jogando-se baldes de água com cal. Nos quentes dias de Dezembro, a água evapora e a cal começa a penetrar nos pulmões dos prisioneiros. Sob os gritos lancinantes de dor, as ordens são claras: a porta deve permanecer trancafiada. É aberta, ao que se sabe, apenas no dia 26 de Dezembro. Naquela sala de horrores, dos dezoito marinheiros ali trancafiados, dezesseis estão mortos, alguns já podres. João Cândido sobrevive. Apenas ele e um outro marinheiro saem vivos, ainda que muito mal, daquele desafio infernal.
Todavia, os 59 anos de vida que teria pela frente após estes momentos de glória e de terror seriam árduos. Banido da Marinha, com uma tuberculose que o acompanhou durante os seus oitenta e nove anos de vida, teve de lutar muito pela sobrevivência. Trabalhou fazendo bicos em navios de carga, que logo tratavam de despedi-lo se descobriam quem era. Ganhou por muito tempo a vida na estiva, descarregando peixes na Praça XV, no Rio de Janeiro. Mesmo velho, pobre e doente, permaneceu sempre sob as vistas da Polícia e do Exército, por ser considerado um "subversivo" e perigoso agitador.



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