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domingo, 21 de agosto de 2011

Sanduíche da Maricota



            A literatura infantil não pode ser utilizada apenas como desculpa para a leitura e incentivo à formação do hábito de ler. Entendo que cada história oferece um universo de possibilidades para ampliação do conhecimento, mas para isso é necessário estabelecer relações entre teoria e prática. Para que isso aconteça a metodologia do ensino através de projetos é uma das possibilidades que acredito.
            Foi o que busquei desenvolver nas atividades que relato a seguir.
            Por estar trabalhando sobre alimentação levei para meus alunos a Hora do Conto Sanduíche da Maricota de  Avelino  Guedes, uma história que além de encantar pela singeleza, possibilita a exploração de muitos temas.
            Após a exploração da capa do livro iniciei a contação da história usando as imagens do livro aumentadas como recurso que foi sendo apresentado num varal.
            Como a história já era conhecida de alguns, eles tentavam adivinhar quem era o próximo personagem a aparecer através dos versos e do ingrediente que era mencionado.
            Criei um clima de suspense para cada novo membro da história e os risos e surpresa de meus alunos contagiavam a sala.
            Também a cada novo personagem solicitava que as crianças repetissem a sequência dos ingredientes, o que além do desafio da memorização foi fonte de diversão. Tudo isso sem esquecer que um dos objetivos era a seriação, como instrumento de conhecimento, pois implica na análise das características e determina relações entre eles. Ao estabelecer essas relações a criança amplia seu conhecimento.
            A história rendeu ao final discussões sobre a mensagem do texto que entre outras era a de que cada um deve cuidar da sua vida sem querer interferir ou preocupar-se com a dos outros. Afinal todo mundo queria modificar o sanduíche da Maricota. Também da importância de ter opiniões, gostos e preferências e não se deixar levar pela opinião dos outros. Na história a Maricota foi aceitando as interferências de todo mundo e somente quando ela iria virar ingrediente do seu sanduíche é que ela deu um basta na situação.
            Aproveitei essas conclusões e levei para o lado de não se deixar influenciar pelo que os outros falam ou por modismos. Foi tocado em assuntos como os convites que eles podem receber diariamente para fazerem coisas que não sejam corretas, como “matar aulas”, desrespeitar pais e professores e até o consumo de drogas. Lembro que trabalho com alunos de 5º ano com faixa etária de dez a quinze anos.
            Os relatos foram vários e todos tinham a ânsia de contar situações que já haviam vivenciado. Como acredito que o professor precisa estar atento a essas falas fui direcionando o assunto para a importância deles terem diálogos com os pais e/ou responsáveis e a professora, pois são adultos que podem ouvi-los e emitir opiniões confiáveis, diferente do que muitas vezes eles escutam, de colegas da mesma faixa etária.
            Desenhos sobre a história foram feitos e confeccionamos um painel sobre a hora do conto. 
            Realizamos também um jogo em grupo. Cada grupo recebeu uma roleta com os ingredientes da história e diversos kits com ingredientes necessários para produção do seu sanduíche. De olhos fechados, os alunos giravam a seta da roda de alimentos e iam aos poucos formando o seu sanduíche. Independente da ordem que recebiam as peças, percebi que eles preocupavam-se em manter a sequência da história. Perguntando o motivo, ouvi que “ficava mais fácil” manter a ordem apresentada. No final do jogo, propus que todos os alunos organizassem seus ingredientes na ordem em que apareceram na história e em coro todos citaram os muitos ingredientes.      
            Se a história da Maricota era aquela, pensei em fazer as crianças interagirem com o texto. Propus que cada um desse uma contribuição para o sanduíche da Maricota e criamos gráficos com as informações.          
            Outra atividade que sugeri foi criarmos uma receita coletiva para a nossa turma. Pedi que pensassem em “ingredientes” que a nossa turma está precisando para ser cada dia melhor. Surgiu então o Sanduíche da Turma 50 B que foi assim formado:

Ingredientes

*1 copázio de respeito
*2 copázios de bom comportamento
*1 lata de obediência
*5 copázios de amizade
*3 quilos de estudo
*3 colheres de sopa de pó de tranqüilidade
*3 xícaras de esperar a sua vez
*5.000 gramas de solidariedade
*11 quilos de cuidar de si mesmo, sem preocupar-se com os outros
*4 xícaras de amor
*3 latas de paz
*4 latas de união

Modo de Fazer

            Um ajudando o outro, cada aluno irá contribuir com todos os ingredientes da receita para preparar o sanduíche da turma 50 B.
            Os ingredientes deverão ser colocados na nossa panela, que é a sala de aula.
            A professora Lisiane irá misturar os ingredientes, mas toda a turma terá que contribuir.
            A colaboração de todos é muito importante para que a nossa turma siga em frente cada vez melhor.

            Ressalto que as falas e expressões de meus alunos foram respeitadas. Por exemplo, a palavra copázio foi por eles mencionada, o que me causou espanto. Apesar de ter trabalhado o grau do substantivo no 1º trimestre, reconheço que não é uma palavra comumente utilizada por uma criança de dez anos. Também as conclusões foram emocionantes. Tanto no ingrediente amizade como no solidariedade, eles mencionaram que “sobra na nossa turma” e “que é o que mais tem”. Fiquei orgulhosa dos meus alunos!
            Como tarefa para casa deveriam montar um sanduíche familiar, com os ingredientes que a família mais achava que estava precisando para viver em harmonia. Gosto muito de atividades como essa. Chamo de “teminha dos pais”, onde solicito a parceria da família nas atividades escolares. Sempre dá certo! É o momento de pais e filhos dialogarem e construírem algo juntos. É a possibilidade de conversarem, o que cada vez mais é raro nas famílias. Muitos textos emocionantes e engraçados surgiram. Muitos revelaram situações que eu já conhecia, por manter sempre um contato próximo com as famílias. Um dos “sanduíches” que mais me chamou atenção foi este, porque a mãe já havia comparecido na nossa turma num outro projeto que desenvolvi, Família na Escola, onde os pais faziam relatos das suas profissões e as muitas atividades em casa.

Receita da Família Renling Alves

Ingredientes

*1 copo de solidariedade
*1.500 gramas de amor
*1 lata de obediência
*5 colheres de amizade com o irmão
*7 quilos de união com a minha família
*5 latas de “se comportar com a minha mãe”
*900 gramas de preguiça
*300 gramas de arrumar a casa
*256 gramas de fazer o tema
*358 latas de paz na minha família

Modo de Fazer

            Junte os ingredientes e coloque na panela acrescentando aos poucos. (Alguns mencionaram que a panela era a casa deles). Com ajuda da minha família juntarei tudo com muita união, com amor, solidariedade ao próximo, obediência, com amizade com o irmão, o comportamento com a mãe, menos preguiça ao arrumar a casa e ao fazer o tema e com muita paz na família.

            Para encerrar esse trabalho solicitei a contribuição dos pais para a realização de um lanche coletivo na nossa sala de aula, onde aqueles que pudessem contribuiriam com ingredientes para sanduíches.
            Criei com meus alunos uma lista de ingredientes possíveis e enviei aos pais um bilhete pedindo contribuições. A escola contribui com os pães e os pais enviaram muitas coisas. Tínhamos muitos frios, tomates e alfaces já cortados, mostarda, katchup, batata palha, maionese e refrigerantes. Ao ver aquela mesa lembrei de uma fala da minha mãe (25 anos alfabetizadora); “Mesa farta em dia de festa é sinal de pais satisfeitos com o trabalho da professora”. Parece que foi isso que aconteceu! 
            O sanduíche da turma também foi uma oportunidade deles aprenderem como servirem-se em um buffet. Acredito que cabe à escola também este trabalho: preparar para a vida! 
            Para minha surpresa essa atividade foi única na vida deles. Eles nunca haviam preparado nenhum alimento em sala de aula! Isso me fez pensar... Uma atividade tão simples, que é tão fácil de fazer e que dá tanta alegria para todos, por que nunca havia sido feita?     
            Depois do lanche conversamos sobre a atividade e descobrimos que a média de sanduíches preparados por cada aluno foi três, mas que vários alunos comeram quatro e um até quatro e meio! Isso rendeu uma produção textual e um novo gráfico.
            Para encerrar esse pequeno projeto contamos com a visita de uma nutricionista da SMED que falará sobre as funções dos alimentos (conteúdo que já desenvolvi) e dicas de alimentação saudável. A foto abaixo mostra a presença dela na minha outra escola, que foi atendida primeiro por ser municipal. 
            Confesso que quando meu grupo escolheu a história Sanduíche da Maricota fiquei decepcionada. Por ser uma história antiga há muitos anos não trabalhava mais com ela. A todo momento surgem novos livros com histórias maravilhosas para desenvolver um trabalho enriquecedor em sala de aula. Mas qual a minha surpresa ao iniciar o trabalho e perceber que muitas coisas podiam ser feitas. É a prova de que o que é bom fica para sempre!

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